sábado, 23 de janeiro de 2016

O doloroso ato de admitir

Espelho: vai encarar?

Nunca achamos que nosso filho está com o desenvolviento atrasado - a não ser quando é absolutamente evidente; nós achamos que a outra criança está adiantada, é apressadinha. Não se trata de cegueira, mas, um ato de defesa que só pode gerar uma implicação mais grave: a demora entre o perceber e o admitir que algo vai não tão bem assim.

Quando li pela primeira vez sobre espectro autista, vi Bento ali, em várias características. Vivi alguns dias de silêncio, uma espécie de luto particular. Tive medo do desconhecido. E vergonha. Uma vergonha imensa de conviver por quase 3 anos com um filho possivelmente autista sem jamais saber o que é autismo. Foi como receber uma medalha de ouro em ignorância. 

Para compensar o tempo perdido mergulhei no assunto através de leituras, pesquisa, e dividi com meu esposo minhas impressões. Quando a primeira profissional, uma fonoaudióloga, sugeriu que Bento poderia estar enquadrado no TEA e nos recomendou uma avaliação do psiquiatra infantil, o que senti foi alívio. Eu tinha receio de quadros mais complexos, como tumor inoperável no cérebro, por exemplo. Sou mãe, acho que tenho o direito de ser um tanto fatalista! 

De lá até aqui muita coisa mudou. O autismo é hoje, para mim, como um monstro que já não consegue amedrontar, embora ainda possua seu estoque intocado de monstruosidade, apresente surpresas. Meu filho está em tratamento para algo que não tem cura e, por hora, minha preparação diária é para convivermos com o autismo (reduzindo suas implicações) e não vivermos sem ele. Se me dói admitir algo assim? Sim! Mas gosto de pensar a dor como combustível para prosseguir.

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Leitura complementar: O que é autismo?

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