Há alguns dias, uma professora de pré-escola me contou que abordou o pai de um de seus alunos e pediu para que ele lesse um post em que falo de uma estereotipia de Bento: abanar as mãos. Ela disse que o aluno da mesma idade do meu filho também tem esse hábito, é o único da sala que não fala de acordo com a faixa da idade, ainda usa fraldas, entre outras características que dão margem para investigação de atraso de desenvolvimento.
Essa investigação, é importante que se diga, deve ser feita por especialistas. Geralmente, os médicos neurologistas e psiquiatras infantis estão na linha de frente, mas, sou da opinião que mais profissionais estejam envolvidos nesse processo que desemboca no descarte ou fechamento de um diagnóstico. De qualquer forma, à escola cabe o papel de alerta.
As professoras de crianças em idade escolar têm um bom parâmetro comparativo para o desenvolvimento delas: os anos de vivência diária. Estamos em plena era do isolamento humano em pequenas famílias e pequenos espaços. Nem todos os pais encontram a oportunidade de observar como seus filhos agem diante de um grupo de crianças: como se comunicam, se reagem ao toque, que tipo de movimentos apresentam e destoam das demais. Os educadores vivenciam isso diariamente.
O que a escola muitas vezes peca é na forma de abordagem. Acredito que ela não deva ser dada num ato isolado do professor, é preciso que a equipe se envolva e sinta que está preparada para dar esse direcionamento aos pais, de forma sutil e acolhedora. Existem instituições que já agem assim, mas se houvesse uma padronização desse comportamento - talvez ditada pelo Ministério da Educação (sim!) - os profissionais da área poderiam agir com menos insegurança e medo. Afinal, é apenas uma observação.
Esse despreparo pode resultar em um erro comum, que acontece sempre: o professor e a escola negligenciam o tempo, pois, acreditam que aquele aluno que indica atraso de desenvolvimento vai acompanhar a turma mais dia ou menos dia, mesmo sem um acompanhamento e orientação específicos. E tempo é uma coisa que não se pode perder.
Como no blog o assunto prioritário é autismo, imagino que aquele pai que apresentei no início desse texto tenha ficado assustado. Considero sua boa vontade de ter vindo até aqui, lido e dado retorno à professora (a quem agradeço a referência), mas a frase com que ele se esquivou reflete a tragédia que é o desconhecimento:
- Meu filho não é autista não. Deus me livre, filho autista dá muito trabalho!
É verdade, os filhos dão trabalho mesmo. Autistas ou não.
Eu não quero criticá-lo, foi uma reação imediata. Quem sabe hoje ele já pense diferente. Nenhum pai, nenhuma mãe, está preparado(a) para ouvir "seu filho é diferente". Vivemos um mundo de padrões e ser diferente ainda é considerado anormal.
Mas não tive como não colocar na minha oração da noite: Deus livre as crianças autistas, e crianças em geral, de pais que veem primeiro o trabalho, antes do amor.
Perfeita sua oração. As lágrimas só não caíram, porque tive que desviar o olhar a Luiz Antônio.
ResponderExcluirObrigada pelo sentimento Jussara! Nada como trocar lágrimas por sorriso, o sorriso que nosso filho nos provoca, então...
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