A convulsão está ligada a maior atividade elétrica em algum ponto do cérebro (Google Imagens) |
O autismo chegou. Uma avalanche de emoções provocada, inicialmente, pelo desconhecimento extremo toma conta de nós. O que está acontecendo com meu filho? Tem tratamento? Tem cura? Há chance de regressão no quadro? Como não percebi antes? São tantas perguntas sem resposta que, se não houver o esforço máximo para manter a sanidade, esse comecinho de jornada vai parecer intransponível. Até que vamos nos informando mais, até que o amparo chega na figura de um familiar, um amigo, de um terapeuta, de um médico, e, em especial, do nosso próprio filho, que continua a ser quem sempre foi (autismo não rouba a criança de nós!) e começa a responder bem à estimulação terapêutica. Ufa, chegamos até aqui! E chegaremos mais longe.
Bombardeadas de informações o tempo inteiro – as que procuramos
e as que nos caem no colo como uma granada sem pino – percebemos
que a palavra “autismo” já não comporta o mesmo significado
para tantas crianças. Algumas delas são exatamente como nossos
filhos: as mesmas “manias”, as mesmas habilidades, o mesmo
comportamento, as mesmas dificuldades sensoriais etc. Outras, reagem
totalmente diferente quando expostas a diferentes estímulos. O que
as une costuma ser a trinca: falha na comunicação, dificuldade de
interação social e presença de movimentos repetitivos. Essas
características “gerais” também mudam de intensidade a depender
da pessoa. É como se estivéssemos diante de “autismos”, já
ouvi alguns especialistas usarem a expressão e acho bastante cabida.
Então, lemos em algum lugar que crianças
com autismo são mais propensas à convulsão (acontecimento
esporádico) ou à epilepsia (crises sucessivas)¹. Embora aquela cena
de convulsão explícita em que a pessoa se debate no chão não
defina sozinha a epilepsia, é justamente essa cena que vamos pensar.
E ter medo.
Quando Bento tinha pouco mais de 2 anos, ele teve um episódio de
febre com espasmos bem esquisitos. Na noite seguinte a febre voltou e
os espasmos também e me senti totalmente aterrorizada; eles eram discretos, mas persistentes. Nessa época não cogitava autismo nem
sabia do que se tratava. Eu era apenas uma mãe com medo de que o filho pequeno estivesse tendo uma crise convulsiva. Enquanto isso, ele dormia
tranquilamente sem nada perceber. Levamos ao médico, que pediu um
eletroencefalograma. O exame constatou que tudo estava bem, não
havia sinal de convulsão ou alteração alguma. Os espasmos foram,
possivelmente, uma sucessão de calafrios ligados à febre. De
qualquer forma, de lá pra cá, sempre me senti com a pulga atrás da
orelha. E febres me tiram do sério - baixas ou altas, a convsão febril, diferente do que pensei, não escolhe temperatura.
Não é incomum que numa conversa entre mães de autistas apareça a
questão: ele já teve convulsão? Mas, além do pavor dessa
possibilidade, o que existe de concreto sobre a ligação autismo e
epilepsia?
O neurologista José Salomão Schwartzman – renomado profissional
na área de Neurologia da Infância e da Adolescência – pontua a
respeito do tema: a prevalência estimada de epilepsia entre
indivíduos autistas varia de 12% a 28%. Na população geral
(não-autista) essa taxa é de 1%. Ainda são
pontuados no mesmo estudo dados interessantes: crises convulsivas
podem ocorrer em 42% das crianças que apresentam uma das desordens
do espectro autista; há uma
distribuição bimodal quanto à idade de início da epilepsia com um
pico ocorrendo entre os 2 e os 5 anos de idade e o segundo na
adolescência; tem sido descrita uma
(ainda controversa) associação entre uma “regressão autística
do comportamento” e a presença de atividade epileptiforme
subclínica do lobo temporal. Tenha acesso aos dados completos
clicando aqui.
“A
epilepsia ocorre principalmente em crianças, mas pode afetar todas
as idades.
Na
criança, estão
entre as
causas mais comuns fatores ou doenças genéticas”².
Estudos
recentes apontam que “um gene
reconhecido por ser o causador de
uma forma de epilepsia infantil chamada de síndrome de Dravet também
poderia ser um dos responsáveis pela aparição de comportamentos
autistas” - que
incluem
“hiperatividade, a dificuldade nas relações sociais e um
desenvolvimento mais lento da linguagem e das habilidades motoras”³. Tais estudos não tratam a epilepsia como comorbidade do autismo; autismo e epilepsia coexistem.
Esse
post é de mãe para mãe e não tem a intenção de assustar, mas de
chamar para uma causa que pode passar despercebida mesmo estando próxima de nós. Um tipo de eplepsia chamada "crise de ausência" relata a perda de consciência do indivíduo enquanto o mesmo mantém o olhar fixo e distante - cena comum para quem tem uma pessoa com autismo em casa, não? Depois da crise, a pessoa "retorna" como se nada tivesse acontecido, mas as alterações ligadas a esses episódios (quando há) tem chance de ser captadas pelos exames. Por isso, qualquer sinal nos nossos filhos que possa abrir brecha
para essa questão (durante o sono ou não; em episódios de febre ou
não) deve ser mencionada ao neurologista. Eplepsia tem tratamento e controle. Jamais
substitua uma leitura de internet pela possibilidade de uma conversa
franca com o seu médico ou com o médico do seu filho.
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