quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O fantasma do espectro autista


Eu adoro palavras, especialmente quando elas prestam o serviço de comunicar. Sou formada em Comunicação Social, não por acaso, e meu livro preferido é o dicionário. Quando me confrontei a primeira vez com a expressão "espectro autista", tive que deixar de lado paixões semânticas e morfológica. Fiquei atenta ao estado do meu filho, não quis ver detalhes fora disso, não olhei para os lados. Mergulhei em mim. Talvez hoje eu prefira pensar que foi como um mergulho, porém, à época, foi como se eu tivesse pulado no precipício de mim.

Agora, com a mente e o coração mais serenos, votei ao vocábulo "espectro" num minidicionário que encontrei na estante. Espectro é uma palavra não estranha, daquelas que a gente pode jurar que sabe o que significa, localizando-a no contexto. Não é o único significado, mas o que o dicionário me disse primeiro foi:

Do latim, spectrum, s.m., fantasma. 

Fantasma é uma expressão chocante quando se está em busca de uma palavra que explique melhor a condição de um filho. A sorte é que hoje eu já não sou a mãe do pré-diagnóstico. Sei que fisicamente nunca vou comprovar isso, entretanto, sinto que envelheci alguns anos nesses "poucos" dias entre a expectativa e as primeiras avaliações profissionais. Não posso dizer que estou preparada para o que der e vier (alguém está?), mas é como se tivesse aprendido a diferenciar o que é cisco no olho e o que é soco na cara. Sim, porque no início de tudo, há uma tendência enorme de acreditar que os ciscos no olho não existem.

A mãe que sou hoje já pode considerar a palavra espectro adequada para a situação do seu filho. Fantasmas assombram, algumas pessoas passam mal de ouvir falar deles. Isso é tenebroso, realmente. Agora pare e pense: fantasmas podem sumir. E podem até aparecer de novo, é verdade, só que eu duvido que a segunda aparição seja tão devastadora quanto a primeira - eles continuarão sendo os mesmos fantasmas, mas, quem sabe, nós já sejamos novas pessoas. Nem todas as pessoas têm medo de fantasma e outras muitas estão por aí, dispostas a enfrentar com racionalidade (e amor) esse temor.

Ufa, eu pertenço a esse último grupo. E você?

2 comentários:

  1. Kkkkkk, mais uma vez, fomos feitas em lote... Incrível a sua descrição do que senti esse tempo todo...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Opa, você é do meu grupo então! Vamos em frente que nossos filhos precisam muito de nós! Beijos.

      Excluir