sábado, 2 de janeiro de 2016

As férias e o aumento do flapping* de mãos

Atualizando em 23/10/2016 - quando eu escrevi esse texto convivia oficialmente com a expressão autismo (e estereotipia) há pouco mais de 2 meses. Recebi algumas informações que somente algum tempo depois, observando meu próprio filho, pude questionar. Como, por exemplo, conter as mãos dele para brecar a estereotipia - coisa que me arrependo de ter feito e hoje não faço nem com reza brava. Minha maneira de enxergar essa manifestação mudou e pensei mesmo em apagar esse post, mas repensei e vou deixá-lo aqui. Como um alerta - é preciso ler o que nossos filhos comunicam e questionar a abordagem profissional. Destaco em vermelho partes que não acredito mais. Minha opinião atualizada sobre essas manifestações está aqui http://benditoespectro.blogspot.com.br/2016/08/o-que-as-estereotipias-comunicam.html?m=1

Do tempo em que eu achava o flapping apenas bonitinho (arquivo 2014)
A estereotipia mais evidente de Bento é o flapping de mãos. Trocando em miúdos: aquele hábito de abanar as mãos mais ou menos na altura dos ombros. Essa manifestação, que é comum em crianças do espectro autista - embora, não seja exclusividade do autismo - para ele significa euforia diante de uma situação boa, é uma espécie de explosão de alegria. Acredito que meu pequeno tenha aumentado essa manifestação agora nas férias por estar vivendo muitos momentos felizes: passeio, piscina, visitas, presente, festa, guloseimas etc. E cada pequena alegria dessas é imediatamente convertida em flapping.

Lendo sobre o assunto e conversando com a terapeuta ocupacional cheguei a algumas conclusões sobre seu caso específico: o flapping é apenas uma das formas não adequadas socialmente de exprimir as emoções. Ora, uma criança neurotípica frente a uma situação que lhe faz bem, simplesmente exprime, aos 3 anos, com palavras esse sentimento: "nossa, como gostei desse presente!", "estou tão feliz por ter vindo ao parquinho hoje!", "que bom que meus avós chegaram!". Para uma criança dentro do espectro autista, especialmente nessa idade, traduzir um sentimento em palavras não é tão simples.

Até pouquíssimo tempo atrás eu nunca havia escutado meu filho dizer que está com fome. E ainda hoje ele diz pouco, apesar de já ter dominado o "eu quero comer" isso ou aquilo. Dizer que está com fome ou com sede ou com calor pode parecer instintivo para quem sente, afinal, a decodificação das sensações em palavras é tão rápida que sequer percebemos que se trata de um processo. Para o meu filho não é tão rápido assim. Para outras crianças no espectro autista também não.

Voltando ao flapping, uma forma que me foi passada de tentar evitá-lo é trocando a expressão física do abano de mãos pela expressão falada. Não é simples, mas ele já começa a entender, o pai e eu estamos aplicando aqui em casa e tento passar para os mais próximos, evitando que se crie o erro do incentivo, que eu mesma já cometi quando ele era menorzinho, por achar "bonitinho" lhe ver sacolejando de felicidade. Recentemente, ao primeiro sinal de flapping, começamos tentando fazê-lo entender que não era um comportamento correto, mas, isso quase sempre o irritava. Então, mudamos a tática: se estamos perto dele, tentamos desviar a agitação das mãos (contendo sutilmente ou dando algo para ele segurar) e inserindo imediatamente uma frase ao momento, do tipo: "eu estou feliz", "que lindo esse sapato", "eu adoro brincar aqui".

Como tudo, é um método que tem que ser feito com bastante persistência e paciência, começamos agora e não tenho como adiantar um resultado nem garantir que todas as crianças que têm flapping respondam da mesma maneira que o meu filho responderá. Até porque manifestação de alegria não é a única "causa" dos abanos, existem crianças que usam em outros momentos e como forma de regulação. Contudo, é nossa tentativa como pais para o momento. Se falhar, tentaremos outra coisa.

Por que tentamos barrar o flapping? Essa é uma pergunta que também já me fiz e a justificativa que mais serve para nós é o incentivo para que ele compartilhe emoções, ao invés de vivê-las em manifestações solitárias, restritas e repetitivas. E que esse compartilhamento o auxilie em termos de interação com o ao redor.
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Texto complementar - Autismo: A restrição comportamental e as estereotipias http://comportese.com/2014/06/autismo-a-restricao-comportamental-e-as-estereotipias/
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*inglês, do verbo flap (bater, vibrar, sacudir, ondular). Fonte: http://www.linguee.com.br/

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