terça-feira, 29 de março de 2016

Carta a mães e pais de crianças não-autistas


CARTA A MÃES E PAIS DE CRIANÇAS NÃO-AUTISTAS:
A INCLUSÃO DEPENDE DE VOCÊS 

Queridas mães e queridos pais de crianças fora do espectro do autismo, nos últimos anos vocês ouviram muito falar na palavra inclusão, não é verdade? Ela está aí: nas leis, nas escolas, no mercado de trabalho, nas áreas de lazer. Ainda sem ser utilizada com o potencial que possui, feito um gênio incompreendido. Incluir não é misturar pessoas diferentes e esperar para ver o que acontece, como um experimento. Incluir é, no meu entendimento, tornar um mesmo ambiente favorável para que pessoas potencialmente diferentes venham a desenvolver habilidades que contribuam para o bem comum e para o próprio bem. Creio que muitos de vocês já sabiam disso, pelo menos intuitivamente. 

O que talvez vocês não tenham atentado é que a inclusão dos nossos filhos autistas depende mais de vocês do que de nós mesmos. Essa certeza jamais me fará deixar de lutar por um mundo melhor para os meus e para os seus filhos - e a luta é diária. Contudo, sem a iniciativa de vocês será uma guerra perdida. O mesmo vale para outras crianças com qualquer tipo de característica que as diferencie na multidão do comportamento dito normal.

Só vocês podem descobrir o que é autismo e passar esse conhecimento para os seus filhos. Aliás, vocês sabem o que é autismo? Sabem como se comporta um autista e as possíveis causas desses comportamentos? Não se sintam encabulados se todas as respostas forem "não". Antes do autismo bater a minha porta eu também não sabia. Se soubesse, teria sido conduzida com mais tranquilidade pelo processo de identificação do transtorno. Se soubesse, poderia ter incluído antes de desejar ser incluída. 

Autistas são pessoas - eu sempre vou considerar essa sua mais importante característica. Quando vocês estiverem diante de uma criança autista, por favor, enxerguem primeiro a criança e deixem que o autismo venha depois. Alguns autistas gostam de enfileirar objetos. Outros não. Alguns autistas falam. Outros não. Alguns autistas andam na ponta dos pés, giram objetos, gritam sem explicação aparente, balançam o corpo para frente e para trás. Outros não apresentam todos esses comportamentos juntos. Alguns autistas (eu diria, muitos autistas) são extremamente carinhosos. Outros não. Alguns autistas podem desenvolver habilidades geniais. Outros não. A inclusão a que venho fazendo referência precisa contemplar todos esses grupos e os que não citei. Tratamento existe, medicação também, porém, o acolhimento no parquinho, nas festinhas, na escola, na família, não é como um produto que podemos tirar da prateleira, passar no caixa e levar para casa numa sacola. Depende de nós e depende mais ainda de vocês. 

Meu grande desejo de lâmpada mágica é ver pessoas que não têm uma relação óbvia com um autista, falando sobre autismo. Por isso fiz essa carta destinada a vocês, que tantas vezes até querem ajudar e não sabem como, acham que é dificílimo. Todas as vezes em que vocês pronunciarem "autismo" em casa, no trabalho, nas escolas de seus filhos, no transporte coletivo, etc., já estarão ajudando de alguma maneira.

Aprofundem o discurso o quanto julgarem necessário: falem para suas crianças sobre diferenças, sobre tolerância, sobre a aprendizagem como via de mão dupla (aprende-se em ensinar, ensina-se em aprender). Hoje está nas suas mãos, mas amanhã estará nas mãos delas o poder de fazer com que "inclusão" deixe de ser apenas uma palavra para se transformar numa prática. 

Obrigada por me ouvir, chegando até aqui.
Isolda Herculano, mãe do Bento, 3 anos, e do Tomé, 8 meses.

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O que é autismo?, por Revista Crescer http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2014/04/o-que-e-autismo.html

2 comentários:

  1. Tenho um sobrinho com a mesma idade da minha filha que tem o espectro autista. O médico diz que ele tem várias atitudes que dizem que ele é autista e várias atitudes que dizem que não é. A parte mais difícil é você não saber como ajudar, já que em relação a interação na escola e com os primos é normal, como qualquer relação entre crianças, mas a dificuldade em saber o potencial da criança e a melhor forma de ajuda-lo a alcançar esse potencial!

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  2. Adorei ler sobre o assunto...Pois sou não sei nada... Melhor não sabia...Agora já estou aprendendo com vcs aqui.
    Obrigada lindo blog.
    Grato pela informação.

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