terça-feira, 3 de maio de 2016

Tenho medo do meu filho autista não falar

E se... (Google Imagens)
Desde que comecei a me relacionar com mães que também tem filhos em investigação de Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), são autistas diagnosticados ou com desenvolvimento atípico qualquer, escuto com bastante frequência a frase: tenho medo que meu filho não fale. Algumas são bem diretas e dizem temer jamais ouvir o filho lhes chamar de mãe.

Na verdade, em se tratando de maternidade e autismo, parece que o medo é o travesseiro que à noite deitamos para descansar. Pouco importa as conquistas do dia ou as desconquistas. No momento em que estivermos sozinhas com nossos pensamentos no escuro do quarto virá o medo: do futuro, da festinha na escola, da mudança de endereço, da chegada do irmão, da regressão,  do processo de desfralde, do preconceito e muitos outros.

Vou bater de novo numa tecla que já apanhou muito aqui: todo atraso de fala/linguagem deve ser investigado por um profissional. Ah, mas a avó dele falou com 5 anos? O tio por parte de pai veio falar direito aos sete? Isso não é justificativa para esperar, pelo contrário, é mais um indício de que a investigação desse atraso deve começar o quanto antes. Como saber se seu filho está atrasado nesse campo de desenvolvimento? Acompanhe a tabela a seguir, clicando nela para ampliar.

Fonte: www.leandrafono.blogspot.com.br 
Há um estudo publicado em 2015 pela revisa científica Cell* que diz que a habilidade para falar está ligada à atividade neuronal na área do cérebro responsável pela linguagem. E que há diferenças evidentes dessa atividade em crianças autistas e não-autistas, que podem ser notadas desde bebês. Trata-se de um experimento científico, não há um exame no mercado que possamos pedir encaminhamento ao médico amanhã, mas a pretensão do estudo é, no futuro, arrumar meios de ativar no cérebro da criança com autismo o mesmo ritmo de atividade da criança com desenvolvimento típico.

E hoje: o que posso fazer pelo meu filho? É o que você deve estar se perguntando.

1. Procure especialistas. Passe pelo menos por um neuropediatra e um fonoaudiólogo. Se seu filho estiver em investigação de TEA/autismo, assegure-se de que o fonoaudiólogo tenha especialização e atualização na área, pesquise sua reputacão e observe bem a "química" da relação entre ele e o seu filho. Toda mãe é um pouquinho detetive, não é verdade?
2. Não espere resultados imediatos, embora eu mesma já tenha me surpreendido com o ritmo de algumas crianças que conheci. Não podemos desconsiderar o grau de comprometimento individual; ao mesmo estímulo, cada uma pode apresentar uma resposta e em um tempo diferente. E não se engane: uma criança mais comprometida não perde o dom de surpreender!
3. Busque métodos alternativos de comunicação**. Há a possibilidade do seu filho não falar, sim. Vou usar uma estatística da Autism Speaks (retirada do blog Lagarta Vira Pupa): nos Estados Unidos 25% das crianças autistas são não-verbais - ou seja, não utilizam a fala para se comunicar.

Sobre o seu pavor de qualquer coisa: ele não deve passar. Pelo menos não enquanto você estiver viva. O medo virá, não adianta correr e fechar rápido a porta - a essa altura ele já estará debaixo da cama. Talvez não seja tão assustador quanto parece. Mas, para esse desfecho, quando o medo chegar, vai precisar encontrar uma mulher forte e disposta - não um fiapo humano caindo aos pedaços. De que outro modo você, que hoje é a voz do seu filho, poderá responder com um sonoro e estridente "SIM" quando ele lhe perguntar: vai encarar?


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