quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Ministério da Saúde adverte: mãe não causa autismo

Mamães, vocês causam amor e não autismo! (Google Imagens)

Parece óbvio, mesmo assim é necessário explicar. Sabe quantas vezes eu já disse para as pessoas que Bento está no espectro autista e quantas delas já quiseram me convencer de que isso é coisa da minha cabeça? Inúmeras. Se eu completo com a opinião de profissionais, também dizem se tratar de exagerados. Se indico características como estereotipia, ecolalia, dificuldade motora fina, falta de interação social com pares e de linguagem pragmática - para citar algumas que Bento apresenta em maior ou menor grau - dizem que todas as crianças têm isso, é fase e passa.

Eu não gosto de olhar essas opiniões com ranço, prefiro acreditar que estão apenas querendo aliviar um coração de mãe cheio de dúvidas. Algumas pessoas que opinam assim estão apenas querendo me proteger; e é uma pena que não percebam imediatamente que aqui em casa precisamos de apoio e não de proteção.  Aposto que é assim na casa de todos os autistas, especialmente na fase de diagnóstico, que é a que vivemos agora.

Também existem pessoas empenhadas em espalhar sua sincera opinião com malícia, por pura maldade. Aproveitam a dificuldade do meu filho para me alfinetar como mãe. Então, insinuam de tudo: que eu mimei demais, que é falta de surra, falta do pai e da família, que é porque não entrou na escola antes, que é porque eu não tenho autoridade, não obrigo a fazer, falta de autonomia e de limite etc etc etc. Um lembrete essencial: meu filho tem 3 anos.

Eu não tenho nenhum recado para qualquer uma dessas pessoas. Muitas delas são queridas, não quero usar rancor nas palavras nem ironia. O que eu gostaria de passar, sutilmente, com a minha vivência, é que mãe não causa autismo. Ou o Ministério da Saúde será obrigado a advertir algo nesse sentido?

E tem mais. Nós, mulheres em geral, já somos penalizadas todos os dias desde Eva e o pecado original. A sociedade - a nossa, ocidental - nos cobra monogamia, maternidade, beleza. O mercado nos cobra disponibilidade, inteligência e mão-de-obra barata. Não é pouco. Além de tudo isso, temos nossas cobranças internas que nem entram na conta para não inflacionar o orçamento doméstico, não é mesmo?!

O que eu quero dizer com toda essa conversa fiada é que não estou disposta - não mais - a atender todas as demandas do mundo. Isso não começou agora, mas, ter um filho no espectro autista me encoraja, sim, a seguir em frente com essa convicção. Não preciso ser cobrada mais do que me cobro todos os dias na esperança de atingir a sombra de uma perfeição que jamais avistei, nem de longe, mas continua a ser a minha meta individual. Não coletiva.

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Leitura complementar: Quatro mitos sobre o autismo

5 comentários:

  1. Definição mais pura e sincera que já vi! Bjs

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  2. Passei pelas mesmas coisas, ao longo do tempo esses episódios opinatórios foram diminuindo, até ficarem bem escassos agora que meu filho já tem 11 anos. Excelente texto, adorei!

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  3. Vivo há 11 anos, desde que meu filho nasceu, este mundo de cobranças, internas e externas. Meu filho, Pedro, tem sindrome de aspergers, com episodios de encoprese, quantas vezes fui culpada ate pelo pai dele. "Menino porco" é o que mais ouvi junto dele. Inúmeras criticas do parentes mais próximos.

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