segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Na conta do espectro autista

Aula experimental do meu peixinho: touca? nem pensar!

Primeiro dia de férias escolares! Criançada em domicílio e muita energia para gastar. O que fazer? Bem, devem existir mil métodos por aí. Por aqui, o que pensei para essa lacuna entre dezembro e fevereiro, que parece inesgotável, foi natação. Cinco vezes por semana para ser mais específica. Achará muito quem não tem um Bento em casa.

Mas o motivo desse texto não é anunciar a boa nova. E sim, dividir um momento que surgiu depois de ter comentado com alguém que Bento iria para a natação nas férias. "É por causa do probleminha dele?", questionou-me. Minha resposta foi apenas: ele vai para a natação porque é criança. Uma frase curta e conclusiva, porém, agora que tenho um blog posso me alongar para além da fala.

Enlouqueceremos no dia em que colocarmos tudo na conta do espectro autista dos nossos filhos. Ah, ele faz birra? As crianças não-autistas também! Está complicado o processo de desfralde? Dá para contar nos dedos, de uma mão só, quem passou facilmente por isso. Ele é ansioso? Como se muitas crianças (ou adultos!) fossem capazes de controlar sua ansiedade. Etc. etc. etc. 

É claro que o espectro autista traz implicações que merecem um olhar atento e intervenção (muitas vezes, intervenção "pesada"), contudo, é inadmissível esquecer: são crianças. Vão chorar, cair, não saber lidar com as situações, rejeitar, ter escape de urina e fezes, recusar alimentos, ter rotina, não gostar de cortar o cabelo, falar fora de hora, dormir pouco, e será preciso muito amor e pouco desespero para que percebamos quais vezes estarão sendo apenas crianças, o que já não é fácil.

Quando olho para Bento, com todo meu amor, não há nenhum fato que sobreponha esse: ele é meu filho. Depois vem: ele é criança. O que há além daí, eu vou tentando ordenar, seguindo prioridades, nessa lista imensa de afazeres que é a vida. 

Escolhi a natação, pois, a) ele ama água; b) acredito na necessidade de se criar uma relação responsável entre crianças e piscinas, desde cedo; c) sou entusiasta dos esportes coletivos, embora a natação seja boa também quando praticada individualmente. Se eu acho que a atividade ajudará na sua condição? Sim! Especialmente porque, sendo as aulas em grupo, ele vai ter a oportunidade de praticar todos os dias um pouquinho de tolerância, abrindo caminhos para a interação, que é um dos seus pontos fracos hoje. 

Agora, não dá mesmo para colocar tudo na conta do espectro autista, entretanto, quem se sentir à vontade para isso pode tentar. Ah: sairá muito, muito, caro. 
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Aqui você pode ler alguns benefícios da natação para crianças e adultos no espectro autista, e verá que os principais deles se aplicam a qualquer criança e qualquer adulto. 

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