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Muita coisa do que você viveu em 2016 ficou para trás, mas o autismo vai acompanhar os passos de sua família também em 2017. Isso não é um mau agouro, uma conclusão pessimista ou precipitada. É uma realidade desafiadora que não se deve temer.
No final de 2015, eu estreei no assunto e me apresentaram como TEA (transtornos do espectro do autismo) o que meu filho pequeno tinha ou o grupo que a partir daquele momento ele passou a fazer parte. O atraso de desenvolvimento - que eu havia notado e lhe trazia implicações sensoriais, dificuldade de interação com outras crianças e uma comunicação atípica - tinha nome: autismo. Como ouvir isso sem me assustar?
Eu passei por um período muito difícil, talvez tão difícil que ainda não consigo sentar e escrever sobre ele. Hoje, entendo aquele momento não apenas como o extremo do medo e da insegurança, eu começava a fase de depuração. De extração dos meus preconceitos, de mergulhar em autoconhecimento. Foi preciso estar ciente de mim para ajudar meu filho da maneira como ele precisava. Ainda vivo esse processo que é longo e duradouro, talvez seja eterno. Vivi isso intensamente todo o ano de 2016 e a medida em que fui me conhecendo mais, conhecendo mais o meu filho e conhecendo o autismo pude ver o medo se distanciar. O medo tem medo do conhecimento. Quando você passa a entender mais o que acontece a sua volta e dentro de você o medo se apequena e afasta. Quando você se tranca em si e na expectativa incerta de futuro o medo se apossa de todos os seus momentos, até dos potencialmente felizes.
Ter menos medo, porém, não significa que as coisas passarão a ser fáceis. Significa que você terá mais disposição e coragem para enfrentar as dificuldades. O ano que vem vai apresentar desafios que parecerão intransponíveis. O ano que vem vai ser, apesar disso, incrível em termos de evolução. Não preciso ser vidente para saber que uma criança com o estímulo do amor e de técnicas desenvolvidas para minimizar suas dificuldades específicas e ampliar o leque de suas habilidades tem todas as chances do mundo de passar 2017 subindo degraus. Qual o tamanho dessa escada e qual ritmo meu filho vai seguir? Eu não sei. Preciso viver e aprender.
No início das intervenções tudo parece acontecer de forma acelerada, mas a tendência é uma diminuição desse pique. Às vezes, isso significa que se deve mudar a abordagem, o contexto, as terapeutas, o empenho familiar. Às vezes, significa que a criança assumiu uma nova fase, mais complexa, mais demorada para transpor e não faz sentido sair culpando meio mundo ou chorando meio litro. Adaptação também parte de nós, não dá para acelerar o passo da vida, precisamos olhar para o outro, tão pequeno, e compreender quando ele está nos dando tudo o que pode dar momentaneamente. Não é derrotismo receber de bom grado menos do que desejamos. Momentos passam. Em 2017 poderemos tentar mais uma vez.
Feliz ano novo.
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